11.10.10

Carta Maristela

Postado por Núcleo Cinematográfico de Dança |

Entre perguntas e repostas do processo, a carta de cada um:

"Queridos...

"Logo vamos começar". Em menos de 39 dias o público estará conosco." Poderemos ver seus rostos. Todos os nossos rostos. Esperam. Eu os vejo. Eu os temo, eu os amo."
Acabei de ver a gravação de nossos "pequenos apocalípses" ou o que chamaria de "ensaio vivo sobre a realidade" de hoje.
Ainda que estivéssemos "analfabetos do sentimento" sobre as "ilhas" que construíamos, algo silencioso me tomou ao ver cada um; vulneráveis em nossas emoções indefinidas e imperfeitas. Fiquei tocada por esse nosso "quase nada" de hoje. Me senti um voyeur, até de mim mesma. Foi como tentar pegar algo que é tão difícil de entender e ao mesmo tempo tão simples. Acredito como a Ariane Mnouchkine em sua carta a um amigo sobre Les Éphémères de que "trata-se de nós" e mais, trata-se da potência desse nosso encontro que tem nos provocado e revelando aspectos de uma intimidade. Subjetividade e intimidade me parecem palavras-chave desse trabalho que ao meu ver está muito mais orientado pelo processo desse encontro do que pelos conceitos. Trabalhamos nesse momento sobre... sobre o que mesmo? Acho que poderia ser sobre... como fragmentos de corpos isolados podem formar um corpo coletivo sem mediação temporal nem f ixação espacial? É como ver narrativas estilhaçadas, cacos de uma ficção possível, mas incompleta, a um passo da completa dissolução. Poderia ser um trabalho "semifictício" ou ainda "semidocumental" sobre nós e nossa experiência diária de nos lançarmos no imponderável. Eu diria que... apesar de tudo, nos lançamos na vertigem.
Para melhor expressar com palavras de Vilém Flusser, o "gesto da busca" ou o tatear, em que não se sabe de antemão o que se busca ou o destino final, é o paradigma de todos os nossos gestos.
Ou ainda para melhor expressar com palavras de Gianni Toti "... Há sempre grandes dúvidas e questionamentos. Sempre se espera que algo aconteça, mas nada acontece, e, se algo acontece, não é importante, pois, se é importante, não acontecerá...Mas deveria...
Não sei porque tive vontade de lhes escrever essa "carta"? Pode ser...Fiz 39 anos este ano. "Sou a mais velha". Entre nós quatro há agora todas as perguntas que poderiam estar apenas entre eu e a Mariana. Procurando por respostas foram pessoas como vocês que fomos encontrar. Aqueles que nos têm revelado nossa íntima fragilidade e obstinação. Sigo quase ipsis literis a sábia carta de Mnouchkine à um amigo. Essa é minha vez de tentar "muito cegamente nos esclarecer"...

Carinhosamente,

Maristela"

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